A Justiça Federal de São Paulo condenou o humorista Léo Lins a oito anos e três meses de prisão em regime inicialmente fechado por proferir discursos preconceituosos durante um show realizado em 2022. A apresentação, posteriormente publicada no YouTube, acumulou cerca de três milhões de visualizações antes de ser removida por decisão judicial em 2023.
Entenda o caso
O Ministério Público de São Paulo acusou Léo Lins de promover “ódio e enredos discriminatórios, injuriosos e humilhantes”, especialmente contra negros, pessoas com deficiência e nordestinos. Como parte das medidas cautelares, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 300 mil em suas contas bancárias e suspendeu seus canais no YouTube e TikTok por 90 dias.
Em maio de 2023, a Justiça ordenou a retirada do especial de comédia “Perturbador” do YouTube, alegando que o conteúdo continha piadas ofensivas sobre escravidão, idosos e pessoas com deficiência. Além disso, Léo Lins foi proibido de divulgar qualquer material depreciativo envolvendo minorias e de deixar a cidade de São Paulo por mais de dez dias sem autorização judicial.
Trajetória profissional
Leonardo de Lima Borges Lins, conhecido como Léo Lins, nasceu no Rio de Janeiro em 3 de setembro de 1982. Iniciou sua carreira no stand-up comedy em 2005, participando de shows de mágica e criando o espetáculo “Pão e Circo”. Posteriormente, integrou o grupo “Comédia em Pé”, considerado o primeiro grupo de stand-up do Brasil.
Na televisão, Léo Lins estreou em 2008 no quadro “Quem Chega Lá?” do Domingão do Faustão. Atuou como redator no programa “Legendários” em 2010 e, em 2011, passou a integrar o talk show “Agora é Tarde” na Band. Em 2014, migrou para o SBT junto com Danilo Gentili, participando do programa “The Noite” até sua demissão em julho de 2022, após a repercussão negativa de uma piada envolvendo uma criança com hidrocefalia.
Além da televisão, Léo Lins publicou diversos livros, como “Notas de um Comediante Stand-up” (2009) e “Segredos da Comédia Stand-up” (2014), e realizou apresentações internacionais em países como Reino Unido, Portugal, Japão e Alemanha.
Últimas apresentações e polêmicas
Mesmo após sua demissão do SBT, Léo Lins continuou realizando shows de stand-up pelo Brasil. No entanto, suas apresentações frequentemente geravam controvérsias devido ao conteúdo considerado ofensivo por parte do público e de instituições. Em 2022, foi condenado a pagar R$ 20 mil por danos morais a uma seguidora após publicar piadas gordofóbicas sobre ela em suas redes sociais.
A condenação atual representa um marco na discussão sobre os limites da liberdade de expressão no humor, especialmente quando envolve discursos que podem ser interpretados como discriminatórios ou ofensivos a grupos vulneráveis.
Outros Humoristas que passaram por isso
1. Rafinha Bastos (Brasil)
Rafinha Bastos é talvez o comediante brasileiro mais lembrado quando se fala em polêmica judicial ligada ao humor. Em 2011, foi processado após fazer uma piada sobre a cantora Wanessa Camargo em um programa ao vivo, dizendo que “comeria ela e o bebê”. O comentário rendeu ações por danos morais e sua saída da RedeTV!.
Apesar de não ter sido condenado criminalmente, o caso abriu precedentes e suscitou discussões sobre ética no humor e responsabilidade pública.
2. Danilo Gentili (Brasil)
Apresentador e humorista, Gentili tem histórico de polêmicas e processos. Em 2019, foi condenado a seis meses e 28 dias de detenção em regime semiaberto por injúria contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), após publicar vídeos ofensivos em redes sociais. A pena foi posteriormente anulada pelo STF em 2021, em defesa da liberdade de expressão.
O caso ilustra a linha tênue entre liberdade artística e ofensa deliberada, principalmente quando envolve figuras públicas e temas políticos.
3. George Carlin (EUA)
Nos Estados Unidos, um dos casos mais emblemáticos é o de George Carlin, que em 1972 foi preso por obscenidade após apresentar seu famoso monólogo “Seven Words You Can Never Say on Television”. O caso chegou até a Suprema Corte dos EUA, que manteve o direito das emissoras de censurar conteúdo considerado ofensivo, mas também reconheceu os limites do controle estatal sobre a comédia.
4. Kathy Griffin (EUA)
A humorista norte-americana Kathy Griffin enfrentou forte represália em 2017 ao postar uma imagem segurando uma cabeça falsa ensanguentada semelhante à de Donald Trump. A ação gerou investigação do FBI, perda de contratos e uma suspensão temporária de sua carreira. Apesar de não ter sofrido condenação legal, foi alvo de “cancelamento” e perseguição pública.